sábado, 16 de julho de 2011

Caipira picando fumo - Almeida Jr.

Caipira picando fumo-1893(óleo s/tela)
202 × 141 cm (79,5 × 55,5 cm)
José Ferraz de Almeida Júnior (Itu, 8 de maio de 1850 – Piracicaba, 13 de novembro de 1899) foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela historiografia como rei de Brogodó. Regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Almeida_J%C3%BAnior)

"Na tela"Caipira picando fumo" acima percebe-se um  homem passivo diante do efeito do sol que lhe desenha as expressões de homem sertanejo,da terra, o homem rural. O semblante do caipira parece transmitir a passividade necessária da relação com a natureza, uma ignorância de bom sentido em contraposição à cultura da precaução das “sociedades civilizadas”, como a ação de afastar-se de um sol intenso. O caipira permanece sentado debaixo da forte irradiação solar, sob um dos efeitos que a natureza tem sobre os homens e que muitos não suportam preferindo atacá-la. Fisicamente, também o homem se distancia pouco desse meio rude. A roupa simples está gasta como aquilo que o cerca. A camisa branca  cortada pobremente, sem botões —, em lugar de realçar a figura humana, torna mais forte a luz do sol, que age sem piedade sobre seu corpo. As palhas de milho espalhadas pelo chão têm um tom semelhante ao da camisa e ajudam em sua dispersão  a reforçar a precariedade da vestimenta. As calças, sobretudo a perna direita, têm manchas de terra. Nada se afasta definitivamente do chão. As partes descobertas do corpo do caipira também têm um tom próximo ao da terra. Crestada pelo sol, sua pele revela a aspereza da vida passada compulsoriamente junto à natureza. As mãos e, sobretudo, os pés sofreram no contato constante com o meio, e se deformaram, adquirindo um aspecto corroido e arredondado dos elementos submetidos longamente à força dos elementos."(Quiroga)

"O sol é o grande personagem deste "Caipira picando fumo". O homem que se ajeita meio a gosto na porta da casa pode até conviver bem com ele. Mas não está a sua altura. O cismar que o protege também o impede de agir e o que domina o quadro é a exterioridade majestosa da luz e do calor que parecem apenas tolerar a presença daquilo que ainda não foi reduzido a eles. Essa ênfase no meio natural põe esta obra de Almeida Júnior em contato com uma série de manifestações culturais daquele período que ajudarão a compreender melhor a extensão e o significado dessa tela e, talvez, da parte mais significativa da produção do pintor. Será necessário portanto um pequeno desvio antes de voltarmos à pintura de Almeida Júnior."(Rodrigo Naves  Professor e crítico de arte)

Esta obra ficou conhecida pela contribuição regionalista da pintura brasileira e por incentivar um rompimento (ao menos na temática) dos argumentos europeus reconhecidos pelo pintor ituano.A pintura do "Caipira picando fumo" nos dá possiblidade de percebermos a relação homem-terra . Podemos perceber também   dados realistas na obra, como a intensidade do sol que parece querer incomodar aos críticos de pele européia demais. A obra chama a atenção não só para o estudo dos costumes, mas, sobretudo para a questão natural da existência do caboclo nas terras do interior paulista.

Fonte:  Novos Estudos - CEBRAP


Saiba mais sobre Almeida Junior

COZINHA CAIPIRA - 1895
Cozinha Caipira -1895
"Em Cozinha Caipira, a luz solar que entra em cena por meio da porta entreaberta, contribui para uniformizar todos os elementos em tonalidades quentes, minimizando as distinções entre a mulher, a casa, os objetos e o chão de terra batida. Desse ponto de vista, não existem diferenças substanciais entre o que é produto da ação humana (como a casa e os instrumentos culinários) e o que é ação da natureza (o desgaste do tempo e da luz solar). Do mesmo modo, a mulher posicionada de cócoras, curvada em direção ao chão, parece sucumbir àquele ambiente árido e monocromático. Além disso, as paredes da cozinha aparecem desgastadas, com pequenos buracos por onde entra o sol. O telhado também é irregular, precário e carcomido pelo tempo. Sobre o forno e as paredes é possível identificar, ainda, manchas pretas de fuligem, impregnadas em um ambiente sem janela.
Se em Cozinha Caipira a luz solar contribui para uniformizar todos os elementos presentes na imagem, na cena da família do engenheiro (abaixo), a luz cumpre o papel inverso: de iluminar e definir de maneira clara ao espectador cada uma das personagens e objetos presentes no interior de uma casa burguesa."
Cena da Família de Adolfo Augusto Pinto- 1891
"Na tela acima, o artista acomodou a família na sala de estar, lugar considerado o mais social da casa, onde as pessoas geralmente recebem as visitas. Por meio da porta aberta no canto esquerdo da tela, todas as personagens são iluminadas pela luz de fora, que entra no ambiente da esquerda para a direita, passando por cada uma das figuras para, por último, chegar ao patriarca. A disposição espacial da família é delimitada por um tapete retangular, e todos estão distribuídos harmoniosamente no espaço desse tapete. A luz incide, primeiramente, sobre três crianças que estão mais próximas da porta, à esquerda. Mais acima, identificamos a incidência da luz externa sobre um tecido segurado pela matriarca da família que, sentada em um sofá vermelho, ensina a única filha a cozer. A mãe está situada bem em frente a uma estante que comporta vasos de flores e dois porta-retratos. Mãe e filha, como as duas únicas figuras de sexo feminino em cena, estão separadas dos demais, sentadas sobre o sofá vermelho que aparece mais ao fundo. Em seguida à imagem da mãe e da filha, a luminosidade nos revela, em posição central, um álbum de fotografias, observado pelo quarto filho que está em pé. Por último, e com menos luminosidade incidente, localizamos o patriarca sentado sobre uma cadeira levemente inclinada para trás, lendo um periódico de engenharia. Depois de passar por todas as figuras em cena, a luz termina sobre um contrabaixo e, em seguida, sobre um piano com uma partitura, encostado na parede. O único elemento que quase não está iluminado é o cão, deitado sobre um tecido escuro que cai da poltrona do engenheiro. Do ponto de vista iconográfico, essa pintura é muito rica em elementos reveladores de um modo de vida burguês, que são apresentados ao espectador por meio da luminosidade externa. Identificamos, assim, diversos objetos que simbolizam o prestígio e uma certa modernidade traduzida nos trópicos, tendo em vista o acelerado processo de urbanização enfrentado por São Paulo. Dentre eles, estão o jornal de engenharia lido pelo patriarca; um álbum de fotografias observado pelo seu filho; os porta-retratos dispostos sobre a estante; o tapete da casa, que delimita o espaço das personagens; o piso de madeira, na época considerado sofisticado; alguns quadros sobre a parede; o contrabaixo; o piano e, sobre ele, duas esculturas e uma partitura.
O pintor ituano José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899) ficou conhecido, sobretudo, por suas pinturas regionalistas, que trazem como temática o caipira. Ao mesmo tempo, compôs uma série de imagens ligadas à urbanidade, desenhando o retrato de engenheiros, donos de companhias de estradas de ferro, além do cotidiano de uma certa vida moderna por meio de figuras femininas. "  Fonte: AS REPRESENTAÇÕES DO CAIPIRA NA OBRA DE ALMEIDA JÚNIORDaniela Carolina Perutti1  Obs.: pesquisa realizada pela turma 1 do Ens.Medio - JBC