sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

GUERNICA de Pablo Picasso

UMA OBRA SOBRE A VIOLÊNCIA




O pintor espanhol Pablo  Picasso (18811973), um  dos  mais  valorizados no  mundo artístico, tanto em  termos financeiros quanto históricos, criou a obra  Guernica em  protesto ao ataque aéreo à pequena cidade basca de mesmo nome. A obra, feita para  integrar o Salão  Internacional de  Artes Psticas de  Paris, percorreu toda a Europa, chegando aos EUA e instalando-se no MoMA(Museum of Modern Art) , de onde sairia apenas em  1981.  Essa obra  cubista apre- senta elementos psticos identificados pelo painel ideográfico, monocromático, que enfoca várias dimensões de  um  evento, renunciando à realidade, colocando-se em  plano frontal ao espectador.

Nesse enorme quadro Picasso utilizou apenas o preto e o branco e alguns tons de cinza,criando detalhes que impressionam o observador.Além das pessoas mortas no chão,uma mulher segura uma criança e olha para cima como que procurando identificar de onde vem as bombas;uma pessoa parece gritar em desespero;um cavalo com o corpo contorcido parece relinchar.Não vemos as bombas;apenas um clarão ao fundo.Mas reconhece-se a violência da cena: um bombardeio sobre uma cidade desprotegida.


"É um quadro profundamente expressivo e um sentimento de luto percorre esta obra dorida pintada a preto, branco e cinzento. A sua composição apresenta três planos significativos: à esquerda, o touro e a mulher com a criança morta nos braços; ao centro, o cavalo e a mulher que transporta a lâmpada; à direita, o incêndio e a mulher que grita. O guerreiro morto no solo ocupa a parte inferior da metade direita. A sensação de tragédia, de dilaceramento e de destruição é chocante. Para exprimir o horror de uma destruição insuportável, Picasso parece reduzir seres humanos e animais a gritos. A postura das mãos, os braços estirados, as bocas abertas e os olhos esbugalhados expressam o horror da morte. Vemos lâmpadas, mas elas não proporcionam qualquer claridade. A decomposição e a fragmentação dos corpos sugere dilaceração e sofrimento. A cor, como já dissemos, é triste. A atmosfera é de pessimismo e interrogamo-nos sobre o sentido simbólico dos elementos luminosos que aparecem. Uma réstia de esperança na vitória das forças republicanas?Note-se ainda a quase total ausência de volume, que sugere a ideia de que a vida e a liberdade foram esmagadas.Guernica é um libelo contra a guerra - contra a crueldade desnecessária - e traduz dramaticamente o compromisso político do artista. Aliás, a arte politicamente comprometida - mas nunca isso foi sinónimo, para Picasso, de artista subserviente - era para o pintor espanhol uma forma de dignificação e realização da actividade artística"(Inês Almeida - http://umaleitura.blogspot.com/2007/01/guernica.html )

Realmente uma das obras mais significativas da obra de Pablo Picasso é o painel intitulado Guernica (imagem).
O painel foi produzido em 1937 (em Paris), tela pintada a óleo ,normalmente tratada como representativa do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco. Uma interpretação possível (talvez a mais corrente) deste painel é que ele representa a atrocidade das vidas estilhaças, corpos revirados do avesso e produz um grande assombro também pelas suas dimensões: é um painel imenso, pintado a óleo, que mede 350 por 782 cm.

A obra de Picasso é um grito contra a violência.
A pintura foi feita com o uso das cores preto e branco - algo que demonstrava o sentimento de repúdio do artista ao bombardeio da cidadezinha espanhola. Claramente em estilo cubista, Picasso retrata pessoas, animais e edifícios nascidos pelo intenso bombardeio da força aérea alemã (Luftwaffe), já sob o controle de Hitler, aliado de Francisco Franco.
Morando em Paris, o artista soube dos fatos desumanos e brutais através de jornais - e daí supõe-se tenha saído a inspiração para a retratação monocromática do fato.
Sua composição retrata as figuras ao estilo dos frisos dos templos gregos, através de um enquadramento triangular das mesmas. O posicionamento diagonal da cabeça feminina, olhando para a esquerda, remete o observador a dirigir também seu olhar da direita para a esquerda, até o lampião trazido ainda aceso sobre um braço decepado e, finalmente, à representação de uma bomba explodindo.

Diz - se que na parte central (inferior direito) do quadro, a pelagem do cavalo mutilado é retratada com pequenos traços verticais. Picasso teria começado a fazê-las, mas quem as terminou teria sido sua esposa, pois o artista teria dito que davam muito trabalho.

ANÁLISE SEMÂNTICA:                  
(Julio Plaza)

PersonagensAtitudesSentimento
TouroErguida à esquerda para frenteValor, orgulho.
MãeErguida para cimaEstabilidade.
MeninoPara baixo Lamento,súplica.
GuerreiroHorizontal, para o altoMorte.
AvePara cimaDestruição.
CavaloErguida, para a esquerdaLamentação, ascensão.
Portadora de LuzPara a esquerdaAgonia.
FugitivaDiagonal para a esquerda e acimaIngenuidade, busca.
Mulher que caiPara cima e abaixo em diagonalAnsiedade, busca, pânico, súplica.
São estas as nove personagens com suas correspondentes atitudes, sentimentos e qualidades representadas que correspondem ao interpretante imediato que é o produtor de sentido.



Análise Pragmática

(Julio Plaza)

O símbolo em Guernica:
 
Guernica: símbolo do conflito antagônico Vida/Morte caracterizado pelo cromatismo contrastado que estabelece sistemas binários de oposição: branco e preto, vida e morte, bem e mal, deus e demônio, vitória e derrota, racional e irracional e caos e ordem.
Touro: fortaleza, verticalidade, orgulho, símbolo mítico do homem touro= minotauro. Aliás, símbolo do próprio artista. O touro é símbolo totem do telúrio, da península ibérica. Metáfora do instinto animal, da energia e da vida. Em termos junguianos representa o inconsciente, irracional a libido. Diversos autores vêm neste touro uma imagem simbólica e metafórica do povo espanhol. 

AVE: metáfora da paz.
Cavalo: metáfora do instinto animal, do telúrico, da vida, do tempo. Em termos junguianos aparece como um componente animal do homem, o inconsciente, a libido, do fogo/luz. Autores identificam este cavalo como simbolizando as forças nacionalistas fascistas.
Luz 1: Há na pintura dois tipos de luz. Uma lâmpada que parece observar a cena de forma omniscente, como consciência sem consciência que observa a cena. Aparece aqui como símbolo do olho de Deus, como luz irradiante que observa a cena como testemunha muda. Pode-se dizer que simboliza a verdade da história. Metáfora do sol, do divino, da verdade.
Luz 2: Luz do candil que parece simbolizar a "iluminação" enquanto inteligência, vida, liberdade, procura de instauração da ordem no caos, metáfora da energia física e espiritual.
Fogo Luz: par semântico antagônico: iluminação destruição.
Triangulo: serve de base para a composição. Pode ser identificado como símbolo de morte pelo seu caráter estático, acentuado ainda pela estátua destruída do guerreiro.
Guerreiro: roto, fragmentado, metáfora da derrota militar e da história.




Assista o video - Guernica em 3D (se não conseguir ver aqui, veja direto no you tube)