sexta-feira, 2 de julho de 2010

PICASSO - A personificação do Modernismo








A tela O Beijo (acima, à dir.), o retrato de Jacqueline (à esq.) e o estudo para Les Demoiselles d'Avignon (acima): o pintor produziu 36 000 obras e já era milionário em 1914
Imagens da exposição
O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) foi a personificação do modernismo nas artes plásticas. Surgida no começo do século XX, sua pintura cubista representou uma ruptura com a arte feita até então e teve enorme influência sobre as gerações posteriores. Com suas relações amorosas agitadas e seu talento para a autopromoção, Picasso se tornou um mito ainda em vida e desde cedo exerceu fascínio sobre multidões.

Um dos artistas mais prolíficos de todos os tempos, ele produziu nada menos do que 36.000 trabalhos. Em 1914, já era milionário e, ao morrer, tinha mais dinheiro do que qualquer outro pintor jamais teve.
Hoje, suas telas alcançam cifras de dezenas de milhões de dólares nos leilões e até mesmo os críticos que vêem sua obra com reservas, como o inglês Paul Johnson, reconhecem que ele é um referencial inescapável. "Picasso levanta questões de apreciação que são únicas na história da arte.

Diante dele, todos somos obrigados a formar opinião", pondera Johnson num livro lançado no exterior, Arte: uma Nova História. Pertencentes ao Museu Picasso, de Paris, as 125 obras – entre pinturas, esculturas, obras em papel e cerâmicas – compõem um panorama abrangente de sua produção. Ordenada de forma cronológica, a exposição vai da tela Garota com Pés Nus, feita por Picasso aos 14 anos, até trabalhos datados de 1972, quando ele era nonagenário.

Na primeira vez que o público brasileiro viu uma grande mostra de Picasso – durante a Bienal paulistana de 1953, que teve o célebre painel Guernica como atração –, o pintor ainda ocupava o centro da cena artística. Suas telas eram a própria imagem da transgressão.
Mas agora os tempos são outros: a arte vive a era que os críticos costumam chamar de pós-moderna, e o modernismo já se tornou artigo de museu. À distância das polêmicas que cercavam o movimento, tem-se a chance de entender e avaliar a obra de Picasso com maior serenidade. Trata-se de um artista de muitas fases . Da fase azul de seu início de carreira pode-se analisar, Retrato de um Homem (1902-1903), além de alguns desenhos. A obra de Picasso está bem servida de obras que cobrem o auge da produção do artista, do advento do cubismo, sem dúvida o movimento mais influente do modernismo, até o fim dos anos 30. Há dois estudos para um dos quadros mais importantes de Picasso, Les Demoiselles d'Avignon (1907), marco inicial do cubismo. A fase metamórfica, em que o pintor exprimiu seus fantasmas e instintos em imagens dilacerantes, tem uma representante à altura na tela O Beijo (1925). Também não falta uma obra de caráter político marcante. Assim como Guernica, A Mulher Chorando (1937) é uma denúncia das atrocidades cometidas pelos partidários do general Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola.
Dos anos 40 até sua morte, Picasso continuou a produzir arte em escala impressionante, mas suas obras não mais ostentavam o vigor das três primeiras décadas do século XX. Há exceções, é verdade. Num retrato de Jacqueline Roque, a última de suas sete mulheres, datado de 1954, o equilíbrio entre concepção original e técnica impecável remete ao Picasso dos tempos áureos. A maioria dos críticos concorda, entretanto, que nessa época o artista já começava a se repetir, produzindo telas que às vezes mais pareciam uma paródia do cubismo.
Se na arte as realizações de Picasso são quase uma unanimidade, o mesmo não se pode dizer de sua conduta na vida pessoal. Não foram poucos os contemporâneos que descreveram o artista como uma figura cínica e manipuladora. Embora sua pintura fosse condenada na Alemanha nazista, durante a II Guerra Mundial ele teria trabalhado sem problemas na França ocupada, graças à amizade com um dos artistas prediletos de Hitler e à tática de presentear poderosos com suas obras. Sedutor incansável, Picasso inspirou-se nas mulheres com quem se relacionou para conceber algumas de suas principais criações. Seus romances quase sempre terminaram de forma escandalosa e traumática. A má fama nessa área foi alimentada pela sanha sensacionalista dos próprios familiares. Sua neta Marina Picasso, por exemplo, lançou um livro de memórias em que o avô é descrito como um monstro com as mulheres. Na arte, ele também foi um monstro – mas dos sagrados.

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